O tamanho do COVID

Crônica do Luciano Luiz

27/03/2020  

Como podemos calcular o tamanho e a gravidade de uma pandemia? Pelo número de contagiados? Pelo número de óbitos? Pela repercussão nas redes sociais? Pela divulgação nos veículos de comunicação? Confesso que tudo pode ser motivo, mas alguns fatores me chamam a atenção neste momento  que estamos vivendo.

Não sou daqueles que buscam respostas em teorias conspiratórias ou mesmo infundadas e também gosto de frisar que números são relativos para as pessoas já que por mais que o sofrimento e o medo esteja com todos, quando a vítima se apresenta no elo de relação as coisas são ampliadas em importância.

Porém entendo ser necessário que tenhamos acessos para algumas informações que as vezes passam desapercebidas e neste momento onde o caos é apresentado diante de nossos olhos uma reflexão se faz indispensável.

Somente nas onze primeiras semanas de 2020 tivemos no Brasil 390.684 prováveis casos de dengue, de febre Chikungunya foram notificados 11.453 e de zika outros 1.395. Foram 109 óbitos confirmados nesses primeiros dias do ano. (Dados do Ministério da Saúde).

O INCA, Instituto do Câncer por exemplo, possui uma projeção de 625.000 casos novos da doença no Brasil em 2020 e não vejo um movimento de conscientização por parte das autoridades públicas e da mídia em geral quanto a uma estratégia de prevenção a isso ou cobrança as inúmeras empresas alimentícias que derramam químicas em seus produtos ou mesmo a indústria do tabaco.

As vezes me pego a imaginar que realmente o coronavírus seja até maior do que se divulga pelo mundo a fora diante do temor que todos possuem pelo mesmo. Quando apresentado como uma enfermidade de baixa letalidade para pessoas com idade inferior a sessenta anos mas com grande capacidade de contagio, não consigo de forma leiga diferenciar da gripe comum que mata em média mais de 350.000 pessoas por ano em todo o mundo e 1109 no Brasil  em 2019. Até hoje, dia 27 de março o COVID 19 já matou quase 80 pessoas no Brasil, porém ainda é muito pouco se comparado com a gripe comum na proporção dos números do ano passado por exemplo. E volto a questionar o número baixo de divulgação ou ações quanto ao combate a gripe comum no nosso país.

Por Que?

Quando pesquisamos um pouco mais e chegamos por exemplo aos homicídios no Brasil, nos deparamos com números que realmente são assustadores e por si só se justificaria um apelo geral para que realmente ficássemos reclusos em nossas casas, já que em 2019 foram registrados no país 41.635 assassinatos o que daria o número de 114 mortes violentas por dia. E olha que esses números foram até comemorados pelos órgãos responsáveis por conta de terem diminuído consideravelmente diante dos 51.558 homicídios de 2018.

Na guerra da Síria em 2018 por exemplo o número de mortes não ultrapassou a casa de 20.000 pessoas, o que reputo uma grande quantidade de mortes, porém estamos falando de um local onde bombas explodiam e tanques andavam disparando pelas ruas, enquanto aqui no Brasil a violência é velada mas de proporções superiores a conflitos bélicos e magnitude quase que incalculável.

Somente diante desses números já entenderia que necessitávamos urgentemente de uma estratégia gigantesca de combate a essa violência e que milhões e milhões que estou presenciando serem enviados para a saúde deveriam estar também comprometidos com a formação educacional das pessoas e segurança pública nesse combate direto a tantos homicídios em um país que não é declaradamente colocado com um clima de guerra, mesmo que por esses dados seja configurado em um regime de absoluta guerra civil.

Para não perder o foco nas enfermidades e suas consequências letais, já que o tema violência urbana é imenso e merece inclusive uma reflexão até mais ampla, volto a citar números relevantes quanto a por exemplo a tuberculose, doença também infecciosa gerada por bactérias. Recentemente o Ministério da Saúde anunciou que por dia somente no Brasil, 200 novos casos são registrados. Ano passado a doença matou mais de 1.5 milhão de pessoas pelo mundo e no Brasil o número foi maior que 4.000 pessoas.

Nessa minha reflexão, porém embasada com números oficiais da Organização das Nações Unidas e Ministério da Saúde do Brasil, as vidas humanas não devem ser tratadas como estatísticas, porém entendo ser relevante a exposição de dados para as perguntas as quais iniciei esse texto.

E volto a questionar, ou a letalidade do coronavírus é muito maior do que tem sido propagado ou as autoridades mundiais estão realmente contagiadas por um vírus que é mais perigoso que o COVID 19, que seria o “efeito midiático”.

Vivemos em tempo de pandemias de informações e conteúdos dos mais diversos que se propagam em milhões e milhões de views ou likes em esferas sociais ou etárias sem quaisquer discernimento quanto a importância e relatividade.

Personagens, histórias, campanhas, exaltações ou condenações são apresentadas diariamente em proporções incalculáveis no planeta e os veículos de comunicação se tornaram coadjuvantes neste processo mesmo que importantes pois também são frutos de uma nova era de questionamentos e legitimidade de conteúdo.

Evidente que nascem e morrem milhares de pessoas diariamente no planeta mas vejo com certo temor para não dizer desconfiança a forma a qual o COVID 19 tem sido apresentado.

Não consigo tê-lo como um motivo maior de ameaça a dizimar a população mais idosa do planeta se comparado as consequências de uma alimentação bem mais comprometida quanto a sua naturalidade, ou mesmo as doenças oriundas da mente que definham pessoas em vida e as tiram de circulação diariamente.

Precisamos ter respeito diante de qualquer ameaça mas lucidez também para avaliarmos nossa condição enquanto cidadãos do mundo e peças importantes nessa engrenagem que move a vida da humanidade.


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