Na comunidade quilombola calunga do
Povoado de São Domingos, no interior do estado de Goiás, a escola se tornou um
verdadeiro portal que conecta estudantes e moradores a quem está distante. Além
do contato com os livros e com o conhecimento passado pelos professores, em
volta das salas de aula, está uma tecnologia que não pode ser vista ou tocada,
mas que tem potencial de aproximar as pessoas e de transportá-las para os mais
incríveis lugares: a internet.
“Hoje eu consigo saber o que acontece
na China, nos Estados Unidos, Bogotá, em qualquer país ou cidade fora do meu
alcance através da internet. Eu tenho acesso a notícias. Eu tenho acesso a
conhecimento”, relata o professor da escola e morador da comunidade, Gerson
Vieira da Silva, 23.
O Povoado de São Domingos, onde Gerson vive, está localizado em uma
região isolada, a 70 km do município mais próximo, Cavalcante (GO). Para chegar
até a comunidade, é preciso percorrer estrada de chão e passar por áreas nativas
do Cerrado. A viagem leva de 1 a 3 horas, dependendo das condições.No povoado,
não há sinal de telefone e o único meio de comunicação é a internet via
satélite, acessível às pessoas gratuitamente pelo Programa Wi-Fi Brasil do
Ministério das Comunicações (MCom). “Se não tivesse internet aqui eu teria que
ir para Cavalcante. Precisaria pegar carona, pagar para usar a internet e poder
estudar. No fim, não teria tempo de me dedicar e aqui eu uso a qualquer hora,
sem pagar”, afirma a estudante de Letras, Maria Gonçalves dos Santos, 32.
O ponto de Wi-Fi Brasil instalado na escola da comunidade quilombola é
um dos mais de 13,4 mil espalhados pelo país. Dentre eles, quase 10 mil estão
em instituições de ensino, mais de 600 em unidades de saúde, 440 em comunidades
indígenas, aproximadamente 300 em instituições de segurança e mais de 200 em
associações comunitárias. São contemplados ainda pelo programa telecentros,
bibliotecas, parques, assentamentos, postos de fronteira, praças públicas,
comunidades quilombolas e ribeirinhas.
"Com esse programa, mostramos que o governo
federal vai até onde ninguém mais vai. Internet hoje é um serviço essencial.
Essencial para estudar, essencial para falar com seus parentes, amigos e para
estar ciente das notícias", destaca o ministro das Comunicações, Fabio
Faria.
Em alguns locais, a instalação é realizada em parceria com outros
ministérios como da Saúde, Educação e Defesa. São atendidos também Centros
Multifuncionais de Educação, apoiados pelo Programa Pátria Voluntária, vinculado
ao Ministério da Cidadania.
Dessa forma, em quase 3 mil municípios, brasileiros podem acessar
gratuitamente a internet graças à iniciativa do MCom. Mais de 8,5 milhões de
pessoas já foram beneficiadas pelo programa que promove conectividade,
cidadania, inclusão digital, educação e desenvolvimento econômico. Com
internet, a população passa a ter acesso a serviços públicos, serviços
bancários, comunicação instantânea e muito mais.
A internet chega às localidades mais distantes por meio de sinal enviado
pelo Satélite Geoesetacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC),
lançado em 2017 e distante 36 mil quilômetros da terra. É assim que o MCom
busca enfrentar o chamado deserto digital que afeta 45 milhões de brasileiros.
Dos pontos de Wi-Fi Brasil instalados, 80% estão no Norte e Nordeste, região
com os menores índices de conectividade do país. “O Wi-Fi Brasil é a última
fronteira da conectividade, onde ninguém mais chega, atendemos lá com internet
via satélite”, reforça o diretor de programas da Secretaria de Telecomunicações
do MCom, José Afonso Cosmo Júnior.
SHAPE \* MERGEFORMAT
Conectividade fortalece educação
Após 21 anos fora da sala de aula, Fabiana Santos do Nascimento, 33,
decidiu que era de retornar aos estudos. No ano passado, foi até a Escola
Municipal Professora Maria Bernadete Barbosa, no distrito de Massaranduba, em
Ceará-Mirim (RN). Ela se matriculou em uma turma do Ensino de Jovens e Adultos
(EJA) e a volta às aulas coincidiu com o início da pandemia de covid-19. Nesse
momento, Fabiana e outros alunos encontraram na internet um aliado.
A escola onde Fabiana está matriculada tem um ponto de Wi-Fi Brasil. A
conexão em alta velocidade e gratuita permite que professores planejem as aulas
e que os alunos possam ter acesso ao conteúdo. “Quase todos os dias eu vou ao
colégio para baixar o dever que a professora passa, volto para casa, respondo
tudo e no dia seguinte volto para entregar a tarefa”, conta a estudante.
O caso revela o quanto o acesso à internet é importante para fortalecer
a educação. É justamente para garantir que as escolas tenham conectividade, que
o MCom, em parceria com o Ministério da Educação, instala, em instituições de
ensino, pontos de Wi-Fi Brasil. Quase 10 mil escolas já têm internet via
satélite ilimitada, beneficiando mais de 2,5 milhões de alunos. “Essas escolas,
provavelmente, não teriam outro meio de acesso à internet. Então, com nosso satélite,
100% brasileiro, levamos conectividade para nossos estudantes”, salienta o
secretário executivo do MCom, Vitor Menezes.
Entre os impactados pelo programa, está a estudante Maria Cecília Silva
do Nascimento, 15. Desde 2019, a Escola Waldemar Diógenes Peixoto, na zona
rural de Macaíba (RN), tem um ponto de Wi-Fi Brasil. “Quando chegou aqui na
escola, me ajudou muito. Fazia pesquisas, tirava dúvidas sobre matérias mais
complicadas”, afirma.
Para os professores, a conectividade é também essencial para desempenhar
melhor as atividades e manter o contato com os alunos. “Eu trabalho aqui desde
1998. Antes era só papel, giz, quadro e caderno. Hoje tem como trabalhar mídia,
pesquisa e vídeo. Tudo isso leva o aluno a um melhor desempenho e melhor
participação”, diz a professora Maria Simone de França e Silva,47, da Escola
Municipal Professora Maria Bernadete Barbosa. “Hoje a internet é essencial na
educação”, complementa.
Conexão para aproximar
Com o Wi-Fi Brasil em lugares afastados e sem acesso a outros serviços
de comunicação, brasileiros têm a oportunidade de se conectar aos amigos e
familiares que estão distantes. Mais de 10,5 mil pontos instalados estão
na área rural. E, neste momento, que nunca foi tão necessário estar presente, a
internet permite essa aproximação.
Raimundo Nonato da Cunha, 63, sabe da
importância dessa conectividade. Ele vive no Assentamento José Coelho, em
Macaíba (RN), usa a internet para manter contato com irmãos e primos que moram
em outras cidades. “Sem Wi-Fi Brasil não tinha como a gente ter contato porque
telefone mesmo não tem. Em Touros, João Câmara, Serra Caiada só pega se for no
vídeo. Com minha família tem que ser pela internet ou não tem como falar”,
afirma. SHAPE \* MERGEFORMAT
Em outro município do Rio Grande do Norte, na Agrovila Canudos está
Francisca Hosana Carvalho, 67. Ela também reconhece que é preciso estar
conectado. “Dá para matar a saudade, a gente envia os vídeos e faz chamada de
vídeo. Recentemente, meu irmão adoeceu, a gente queria se comunicar através da
internet e foi bom, né? Porque eu não podia ir lá, ele mandava notícia e eu
mandava notícia também”, recorda.
Saindo do Nordeste para o Centro-oeste, voltamos ao Povoado de São
Domingos. Sentada, em volta da escola, Katiele Gonçalves Santos, 22, aproveita
o sinal do Wi-Fi Brasil para conversar com familiares. “Pela manhã sempre venho
falar com minha família, tenho parentes que moram longe e a gente sempre quer
saber notícia, como não tem sinal de telefone, acesso a internet”.
Cada ponto de Wi-Fi Brasil permite momentos únicos. O engenheiro
eletricista, Vanderson Santos, da ViaSat/Telebras, responsável por operar a
internet via satélite, compartilha uma cena que o marcou: “Teve uma situação
onde a gente fez uma instalação no Pará. Uma senhora já fazia anos que não via
filha dela. Após a instalação, logamos o celular dela no wi-fi e na hora ela
conseguiu falar com a filha por uma chamada de vídeo. Ela começou a chorar. Foi
muito gratificante para a gente”, lembra.
O acesso à internet, por meio dos pontos de Wi-FiBrasil, permite que as
pessoas tenham acesso a serviços públicos, bancários e a meios de pagamento.
“No final das contas, a inclusão digital é também social. Por exemplo, no caso
do auxílio emergencial ele é pago via aplicativo da Caixa Econômica Federal.
Por isso a ideia é acabar com o deserto digital no país. A integração de todas
as políticas públicas do Ministério tem um objetivo só: conectar todas as
pessoas”, argumenta o diretor de programas da Secretaria de Telecomunicações do
MCom, José Afonso Cosmo Júnior.
Essa conexão permite também o acesso a ferramentas que fomentam negócios
locais e geram desenvolvimento socioeconômico nas comunidades. Na Agrovila
Canudos, as famílias trabalham com a agricultura. Há plantação de banana, coco,
cajueiro, macaxeira, feijão e outros. Esses alimentos servem para consumo
próprio e também para a venda. Com a internet, o processo se tornou mais
eficiente.
“Às vezes a gente tem uma produção, mas tem dificuldade para fazer a
venda, porque não há mercado fixo. Então, tiramos uma foto, fazemos um vídeo,
divulgamos e quando é com dois ou três dias o comprador vem e leva”, comenta
Ulisses Carvalho da Rocha. Os moradores da comunidade também aproveitam a
conexão para aprender mais sobre as formas de cultivo. “Pesquisamos sobre o que
usar para pulverização, adubação e aprendemos coisas novas. A produção melhorou
bastante e gastando menos”, destaca José Leno Graciano, 28.
Mais comunicação na saúde
A transmissão rápida de dados faz a diferença no dia a dia e na área da
saúde é capaz de salvar vidas. Um diagnóstico precoce e a conexão com
profissionais de diferentes especialistas que estão em outras cidades, por
exemplo, podem ser determinantes. Além disso, no cenário de avanço da
telemedicina, garantir conectividade em unidades de saúde se tornou essencial.
Por meio do Programa Wi-Fi Brasil, mais de 600 unidades de saúde já
contam com pontos de acesso à internet, gratuito e de alta velocidade. Uma das
atendidas é a unidade da Estratégia Saúde da Família (ESF) de Marajó, distrito
de Cristalina (GO). A região está distante 130 quilômetros do centro do
município e enfrentava dificuldades devido à falta de estrutura de comunicação.
“Antes, a gente precisava pegar um ônibus e ir para a cidade mais
próxima. Demorava muito e o resultado demorava dias para sair também. Hoje é
mais fácil, tem vários tipos de exame aqui na unidade, na hora a gente faz e
eles enviam o resultado para o celular”, recorda Djanira Ribeiro da Silva, 52,
moradora do distrito. SHAPE \* MERGEFORMAT
A história da unidade começou a mudar em 2020 com a chegada de um
projeto piloto do Programa Interministerial Telessaúde do Brasil. A iniciativa
conta com aportes do Ministério da Saúde, Ministério das Comunicações (MCom),
Ministério de Minas e Energia, Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério
da Defesa, Ministério da Economia e Ministério da Cidadania. Por meio do
Programa, foi estabelecido um protocolo de atendimento automatizado e com
ferramentas digitais. Com uso de plataformas tecnológicas, exames são feitos de
forma rápida e o atendimento conta com suporte de profissionais que estão em
outras cidades.
A internet conecta paciente e médico, paciente e equipamentos
laboratoriais e, também, profissionais da saúde. “Hoje quem realiza o
atendimento aqui de especialidades como dermatologia, ginecologia, cardiologia,
psiquiatria e pediatria são médicos que estão em centros de saúde de Goiás,
Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Paraíba e Rio Grande do Norte”, explica o
gerente do projeto, general Marco Antônio Martin da Silva. Os exames são feitos
na UBS em Marajó e enviados a esses profissionais para diagnóstico. “Sem
internet não teria como conectar todos esses centros com a estrutura que temos
aqui”, reforça.
Com a conexão entre os profissionais, vidas já foram salvas, recorda a
enfermeira Núbia Graziela Silva. “Chegou um paciente aqui convulsionando,
fizemos um eletrocardiograma por meio da internet que é disponibilizada e
enviamos para ter um laudo. O médico, que estava em outra cidade, alertou
rapidamente que era um caso de infarto e logo o encaminhamos para um hospital”,
relata.
A ideia é levar esse projeto, desenvolvido na Unidade de Saúde de
Marajó, para outras cidades que estão em áreas remotas. Nesse sentido, o
Programa Wi-Fi Brasil será um grande aliado, considerando as dificuldades
logísticas para instalação de infraestrutura física em cidades de fronteira e
do interior.
Conexão via satélite
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A internet que chega até aos brasileiros por meio do Programa Wi-Fi
Brasil vem de muito longe: do espaço. Os pontos instalados pelos municípios
recebem sinal de internet do Satélite Geoestacionário de Defesa e
Telecomunicações Estratégicas (SGDC), que está localizado há 36 mil km da Terra
e foi lançado em 2017. A Telebrás e a empresa ViaSat são as responsáveis pela
operação.
Além desse potencial de cobrir um vasto território, a tecnologia de
internet via satélite permite ainda que o sinal chegue com a mesma qualidade em
diferentes locais, como ressalta o diretor de programas da Secretaria de
Telecomunicações do MCom, José Afonso Cosmo Júnior. “A gente tem a mesma
capacidade de internet distribuída por todo país. Ou seja, não atende apenas
grandes centros ou grandes clientes”. Durante instalação, no município de São
Gonçalo do Amarante (RN), o engenheiro eletricista Vanderson Santos da ViaSat
detalhou como funciona esse sistema. “A gente aponta uma antena para o
satélite, capta esse sinal do satélite e a partir daí distribui a internet
Wi-Fi na região”, explica. Como o sinal é transmitido pelo ar, não há barreiras
para o Wi-Fi Brasil. “Em todo o território nacional a gente pode fazer essa
instalação”, reitera Santos.
A meta é expandir o Programa Wi-Fi Brasil e disponibilizar a população,
até o fim de 2021, 18 mil pontos de acesso à internet instalados nas cinco
regiões do país. De acordo com o secretário-executivo do MCom, Vitor Menezes, o
objetivo das políticas públicas é garantir a todos conexão à internet. “O
governo federal está muito preocupado com relação a conectividade não só dos
alunos, mas de todos os brasileiros. Temos visto, ao longo dos anos, que o
Brasil conecta cada vez mais pessoas. Nós já somos a 4ª maior população online
do mundo e queremos continuar subindo nessa escala”, completa.
Fonte: MC