Neste domingo, 9 de fevereiro, a National Football League (NFL) coroará o campeão da temporada 2024 no Super Bowl 59. A final será realizada em Nova Orleans e colocará frente a frente Kansas City Chiefs e Philadelphia Eagles. Será uma reedição do Super Bowl de dois anos atrás, quando os Chiefs derrotaram os Eagles por 38 a 35 graças a um field goal no último minuto.
Embora quarterbacks como Patrick Mahomes, do Kansas City Chiefs, ou running backs, como Saquon Barkley, do Philadelphia Eagles, sejam os grandes nomes de suas equipes, muitas vezes um jogo da NFL – e até mesmo um Super Bowl – pode ser decidido pela habilidade e precisão de um kicker.
Vários chutadores da NFL, aliás, passaram pelo futebol antes de migrarem para o futebol americano. Um bom exemplo é o kicker dos Chiefs, Harrison Butker, que jogou futebol pela Universidade de Georgia Tech antes de fazer a transição para o futebol americano. No entanto, para a maioria dos kickers da NFL, a experiência no futebol se resumiu a jogos no ensino médio ou na universidade. Apenas um seleto grupo chegou a atuar profissionalmente no futebol antes de mudar de esporte.
E há ainda um grupo mais raro: o dos atletas que jogaram futebol profissional, migraram para o futebol americano e alcançaram o auge da NFL com uma participação no Super Bowl. A FIFA relembra os jogadores que trilharam esse caminho, saindo do futebol profissional para aparecer em seguida na maior partida da NFL.
Toni Fritsch
A trajetória de Fritsch tanto no futebol como no Super Bowl é um pouco diferente da de seus colegas americanos. Nascido na Áustria, Fritsch (na fileira do meio, primeiro à esquerda na foto abaixo) foi um dos grandes destaques do Rapid Viena que conquistou três títulos do Campeonato Austríaco em 1964, 1967 e 1968. Ele também defendeu a seleção austríaca em nove oportunidades, marcando dois gols inesquecíveis na vitória por 3 a 2 sobre a Inglaterra em Wembley, em 1965.
Mas a vida de Fritsch mudou em 1971, quando o Dallas Cowboys foi à Europa procurar kickers com um "estilo de chute" do futebol. Até então, muitos dos kickers da NFL acumulavam mais de uma função em campo, e foi apenas no início dos anos 1970 que as equipes começaram a buscar especialistas da posição. Cientes da grande quantidade de jogadores de futebol na Europa, os times da NFL passaram a vasculhar o continente em busca de novos talentos para os field goals. Foi assim que, de repente, Fritsch desembarcou no estado americano do Texas.
Sem falar uma palavra de inglês, o austríaco de 26 anos acertou o field goal da vitória logo em sua estreia pelo Cowboys em jogo da temporada regular. Infelizmente, uma lesão fez Fritsch perder o restante da temporada, o que não o impediu de receber o anel de campeão após o Dallas conquistar o Super Bowl 6 com vitória sobre o Miami Dolphins por 24 a 3.
Quatro anos depois, Fritsch deu a volta por cima e enfim disputou um Super Bowl dentro de campo, com os Cowboys enfrentando o Pittsburgh Steelers no Super Bowl 10. Ele converteu seu único field goal da partida e dois extra points, mas não conseguiu evitar a derrota por 21 a 17 para os Steelers.
Garo Yepremian
Nascido no Chipre, Yepremian se mudou para a Inglaterra ainda jovem e jogou futebol profissional no país, dividindo seu tempo com um trabalho em meio período em um armazém em Londres. Mais tarde, Yepremian viajou para os Estados Unidos, onde assinou um contrato com o Detroit Lions, da NFL, em 1966. Em 1970, ele se transferiu para Miami, marcando os únicos três pontos dos Dolphins na derrota por 24 a 3 para o Dallas Cowboys no Super Bowl 6.
No ano seguinte, Yepremian entrou para a história do Super Bowl de uma maneira não tão positiva. Com os Dolphins vencendo o Washington Redskins por 14 a 0 no Super Bowl VII, Yepremian entrou para tentar um field goal de 42 jardas. No entanto, o chute acabou sendo bloqueado. Após a bola voltar em sua direção, Yepremian tentou salvar a jogada com um passe para um companheiro de equipe, mas novamente não teve sucesso: Mike Bass, do Washington, interceptou o passe, correu direto para a end zone e marcou o touchdown.
Mesmo sendo responsável por um dos erros mais marcantes da história do Super Bowl, Yepremian teve motivos para sorrir: o Miami venceu a partida por 14 a 7 e conquistou o título de 1972 de forma invicta, um feito inédito e que nenhuma outra equipe conseguiu repetir até hoje.
Yepremian ainda conquistou um segundo anel no ano seguinte, no Super Bowl 8, quando acertou um field goal e três extra points no triunfo dos Dolphins sobre o Minnesota Vikings por 24 a 7. De quebra, tornou-se o único jogador desta lista a disputar três Super Bowls.
Chris Bahr
Entre os anos 1970 e início dos anos 1980, a North American Soccer League (NASL) viu desfilar em seus gramados alguns dos maiores nomes da história do futebol: Pelé, Johan Cruyff, Franz Beckenbauer, George Best e Eusébio. Em meio a eles, havia também o jovem Chris Bahr, natural do estado da Pensilvânia, que se destacou tanto no futebol quanto no futebol americano durante sua passagem pela Universidade de Penn State.
Seu pai, Walter Bahr, foi uma estrela do futebol nos EUA e ficou famoso por dar a assistência para o gol de Joe Gaetjens na histórica vitória sobre a Inglaterra na Copa do Mundo da FIFA Brasil 1950™. Vinte e cinco anos depois de seu pai protagonizar em Belo Horizonte um dos maiores feitos da história dos Mundiais, Bahr foi selecionado pelo Philadelphia Atoms no draft da NASL de 1975. Ele marcou 11 gols em 22 partidas, foi eleito o "Novato do Ano" do campeonato e ainda garantiu uma vaga na seleção dos EUA que disputou as eliminatórias para os Jogos Olímpicos de 1976.
Mas esse acabou sendo o fim de sua carreira no futebol, já que no draft de 1976 da NFL, Bahr foi escolhido pelo Cincinnati Bengals. Quatro temporadas depois, trocou de time, passando a vestir as icônicas cores preto e prata do Oakland Raiders, com o qual venceu dois Super Bowls.
Bahr converteu dois field goals e três extra points para ajudar os Raiders a vencer os Eagles por 27 a 10 no Super Bowl 15. Três anos depois, já como jogador do então Los Angeles Raiders, marcou um field goal e cinco extra points na vitória esmagadora sobre o Washington Redskins por 38 a 9 no Super Bowl 18.
Matt Bahr
Matt Bahr também foi uma estrela do futebol quando atuou pela Universidade de Penn State. Três anos mais novo que seu irmão Chris, Matt iniciou sua carreira na NASL pelo Colorado Caribous, com o qual disputou 24 partidas antes de ser negociado com o Tulsa Roughnecks. Depois de uma breve passagem pelo Pennsylvania Stoners, da American Soccer League (ASL), ele entrou no draft da NFL em 1979 e foi selecionado pelo Pittsburgh Steelers.
A passagem mais longa de Bahr por uma equipe foi no Cleveland Browns, no qual atuou por nove anos, mas seu grande momento no futebol americano veio com as cores do New York Giants: na final da NFC de 1990, ele marcou todos os pontos de sua equipe ao converter cinco field goals. Um deles, inclusive, veio nos segundos finais e selou a vitória por 15 a 13 sobre o San Francisco 49ers, que impediu a equipe californiana de conquistar seu terceiro título consecutivo e que garantiu os Giants no Super Bowl.
No Super Bowl 25, Bahr brilhou ao converter o field goal da vitória dos Giants sobre o Buffalo Bills por 20 a 19. Ele encerrou a partida com dois field goals e dois extra points, igualando seu irmão Chris com dois anéis de campeão do Super Bowl.