A recente turbulência no Parque São Jorge, marcada pela saída do técnico
Ramón Díaz, escancarou uma velha e persistente questão no futebol brasileiro:
a escassez de novos talentos na prancheta e a consequente dependência de
nomes consagrados, mas nem sempre em sintonia com as demandas do
futebol moderno. No epicentro dessa busca, dois veteranos com mais de seis
décadas de vida e extensos currículos, Tite e Dorival Júnior, emergiram como
os principais candidatos a assumir o comando técnico do Corinthians. Essa
movimentação, longe de ser uma solução imediata, lança luz sobre as
fragilidades de um sistema que parece ter dificuldade em renovar seus quadros
de liderança técnica.
A sombra de Tite pairou sobre o CT Joaquim Grava como um fantasma
conhecido e, para muitos torcedores, um porto seguro em meio à instabilidade.
Sua passagem vitoriosa pelo clube, culminando em conquistas históricas como
o Mundial de Clubes da FIFA em 2012, o credencia como um ícone e um nome
capaz de renovar as esperanças dos corinthianos. No entanto, a recusa em
retornar, motivada pela necessidade de priorizar sua saúde mental após uma
passagem desgastante pela Seleção Brasileira, serve como um alerta para as
pressões extremas que recaem sobre os ombros dos treinadores no futebol de
alto nível. A decisão de Tite, embora compreensível e respeitável, deixa um
vácuo considerável no mercado e força o Corinthians a buscar alternativas.
Nesse cenário, o nome de Dorival Júnior ganhou força, impulsionado pela
ausência de outros nomes de peso disponíveis. Sua vasta experiência em
diversos clubes do cenário nacional é inegável, colecionando passagens por
grandes equipes e alguns títulos relevantes. Contudo, sua recente passagem
pela Seleção Brasileira, marcada por resultados aquém do esperado e uma
falta de identidade tática clara, levanta questionamentos sobre sua capacidade
de liderar um projeto ambicioso como o do Corinthians. A valorização
excessiva de seu nome no mercado, talvez inflacionada pela escassez de
opções, não apaga as dúvidas sobre sua efetividade em um contexto de alta
exigência e pressão constante.
A dependência de treinadores experientes como Tite e Dorival Júnior reflete
uma carência preocupante na formação e ascensão de novos profissionais no
futebol brasileiro. Enquanto outros mercados investem em novas metodologias,
em programas de desenvolvimento de técnicos e em dar oportunidades a
nomes promissores, o Brasil parece preso a um ciclo vicioso de recorrer aos
mesmos nomes de sempre. Essa falta de renovação não apenas limita a
diversidade de ideias e abordagens táticas, mas também impede que o futebol
brasileiro evolua em sintonia com as tendências globais.
A ausência de uma "safra" robusta de novos treinadores com potencial para
assumir grandes clubes não é um fenômeno isolado. Ela é resultado de uma
série de fatores interligados, que vão desde a falta de investimento em
formação de técnicos até a cultura imediatista do futebol brasileiro, que muitas
vezes impede que projetos de longo prazo se consolidem e que novos nomes
ganhem espaço. A pressão por resultados rápidos e a volatilidade dos cargos
técnicos acabam por privilegiar a experiência em detrimento da inovação e da
ousadia.
Diante desse panorama, a escolha do Corinthians pelo seu novo treinador se
torna uma decisão crucial, que vai além da simples substituição de um
profissional por outro. Ela representa um termômetro da visão do clube para o
futuro e de sua disposição em romper com o ciclo da dependência de nomes
consagrados. Optar por Dorival Júnior, diante da ausência de Tite, pode ser
vista como uma escolha pragmática, buscando a experiência e o conhecimento
de um profissional rodado. No entanto, essa decisão carrega consigo o risco de
perpetuar um modelo que não necessariamente trará a renovação e a
oxigenação tática que o futebol brasileiro tanto necessita.
A situação do Corinthians serve como um microcosmo de um problema maior
que assola o futebol nacional. A falta de investimento na formação de novos
treinadores, a cultura do imediatismo e a dificuldade em dar oportunidades a
nomes promissores criam um cenário onde os clubes se veem reféns de um
mercado limitado de profissionais experientes, muitas vezes supervalorizados e
nem sempre alinhados com as demandas do futebol contemporâneo. A busca
por um novo maestro para o Timão, portanto, não é apenas a busca por um
nome para comandar a equipe, mas sim um reflexo da urgência em repensar o
modelo de formação e desenvolvimento de treinadores no Brasil. Enquanto
essa reflexão não se traduzir em ações concretas, o futebol brasileiro
continuará a depender dos mesmos rostos, adiando a tão necessária
renovação na beira do gramado.
ROBERTO MAIA É JORNALISTA, ESCRITOR, CRONISTA ESPORTIVO E
EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR