A tensão desfilava no ar entre os jogadores do Fluminense no vestiário do Estádio Bank of America. A minutos de entrar em campo pelas oitavas de final do Mundial de Clubes da FIFA 2025™, os jogadores tricolores respiravam fundo diante de um desafio que, para muitos, não se parecia com nada vivido na carreira anteriormente.
Para Thiago Silva, não. Aos 40 anos, o zagueiro é o capitão do Flu e usou toda sua experiência para transformar a tensão pré-jogo em vibração desde o minuto inicial contra a Internazionale.
"Eu quero dizer um negócio com vocês. Pensei durante a noite, durante ontem, sobre entregar tudo lá dentro. De não deixar para depois o que a gente pode fazer agora", bradou Thiago. "Não espera, de acordo com o jogo, falar 'o que eu poderia ter feito. Não."
Ao falar sobre a necessidade de aproveitar o momento, o zagueiro foi às lágrimas lembrando de seu padrasto, que foi como um pai para ele. Doente durante a Copa do Mundo da FIFA de 2014, ele seria internado e morreria meses depois, sem que Thiago pudesse ter o visitado no hospital.
"Eu não fui ver ele no hospital porque eu achei que ele ia sair", lamentou.
"O que eu quero dizer: não deixa de fazer lá dentro o que a gente pode fazer agora, não deixa para depois porque não dá tempo."
A emoção foi transformada em união dentro de campo e o Fluminense, desde o apito inicial, mostrou que estava disposto a não deixar nada para depois. Logo aos três minutos, Germán Cano aproveitou jogada na área para abrir o placar e os caminhos para a vitória sobre a Internazionale.
Com a vantagem no jogo, o Fluminense passou a se defender com maestria para evitar uma reação dos italianos. A partir deste momento, mais uma vez foi possível notar a liderança de Thiago. Em um esquema novo de três zagueiros, o capitão dominou o centro da área e neutralizou as tentativas do francês Marcus Thuram.
Nos momentos de mais necessidade, era sempre ele quem aparecia como grande liderança técnica do sistema defensivo do time. Ao lado de Jhon Arias, o zagueiro tem sido o jogador mais seguro do Flu com a bola nos pés neste Mundial.
Mas não foi só com o coração e com os pés que ele liderou o time. Ao enxergar um desencaixe na forte marcação feita pelo time de Renato Portaluppi, o zagueiro aproveitou a parada para hidratação, pediu a palavra e sugeriu uma mudança tática no time.
A preocupação de Thiago era com o cansaço de Arias, que seria deixado mais à frente, com menos obrigações defensivas.
"Vamos fazer 5-4-1, deixa ele (Arias) na frente, o Everaldo consegue ali (pela ponta). Ele está cansado para marcar lá".
Renato considera a ideia, mas se preocupa com um detalhe: "Quem vai pegar o lateral direito lá?". Lima assume essa responsabilidade, o treinador acata a sugestão e o Fluminense não só mantém o gol intacto, como faz o segundo, com Hércules.
O domínio da tática por Thiago Silva não chega a ser uma novidade. O zagueiro já iniciou seus estudos na CBF Academy, escola de formação de técnicos do Brasil, e nunca escondeu que quer seguir trabalhando com futebol após o fim de sua carreira.
"O Renato é um cara muito aberto. Um livro aberto, sabe?", afirma Thiago em entrevista à FIFA. "Tenho uma boa relação com ele já de muito tempo. Desde a época do Fluminense, lá atrás de 2007, 2008. Fui convocado para a Seleção Brasileira pela primeira vez quando era treinado pelo Renato. Enfim, sempre me deu muitos conselhos. A gente tem uma boa relação, e essa troca é importante. Mas o lado humilde dele permite que isso aconteça. Porque nem todos os treinadores têm essa humildade para entender o momento do jogador."
Dentro do vestiário, os companheiros ficam admirados. "O Thiago tem uma visão diferenciada. É um grande líder, um grande capitão. Tem uma visão tática muito acima. Ele consegue enxergar e mudar algumas coisas dentro de campo que são importantes para gente, vê o jogo em uma posição que consegue enxergar o campo", disse o lateral René em entrevista à TV Globo.
Esta competição tem sido ainda mais especial para Thiago Silva, porque o zagueiro não fez parte das conquistas da Libertadores da América, da Recopa Sul-Americana e nem mesmo do bicampeonato Carioca, títulos que marcaram a atual geração na história do Fluminense.
O capitão, que voltou ao Tricolor no meio do ano passado, sonha com um título importante para fechar sua carreira e sua história nas Laranjeiras. O Mundial de Clubes da FIFA parece ser a oportunidade perfeita para isso e Thiago está a apenas três jogos de realizar seu sonho. A empreitada continua nesta sexta-feira, em Orlando, quando o Flum enfrenta o Al Hilal pelas quartas de final.
"Eu acho um excelente time, que vem jogando juntos já tem algum tempo. Agora com um novo sistema com o [técnico Simone] Inzaghi, mas sem perder a qualidade técnica dos seus grandíssimos jogadores, que estão atravessando um momento muito legal também na carreira de cada um", avalia Thiago.
Dentre estes jogadores, a preocupação mais específica para o veterano brasileiro é o seu compatriota Marcos Leonardo, centroavante do Al Hilal que foi o destaque da emocionante vitória sobre o Manchester City nas oitavas de final.
"Ele vem atravessando um grande momento. Se não me engano fez, na atual temporada, 27, 28 gols. Então isso mostra a capacidade técnica desse jogador. E a gente tem que ter todas as atenções possíveis com ele e com quem passa a bola para ele", diz o capitão do Flu.
Fonte: FIFA