Por muito tempo, o futebol brasileiro tem sido reconhecido mundialmente por
seu talento e criatividade. No entanto, uma sombra paira sobre o esporte
nacional: a arbitragem. Nunca estivemos tão mal servidos de árbitros como
agora, com erros frequentes mudando resultados e gerando infindáveis
discussões. O VAR, que deveria ser uma ferramenta para minimizar equívocos,
muitas vezes acaba complicando ainda mais as partidas.
A recente reeleição de Ednaldo Rodrigues por aclamação como presidente da
CBF, com apoio dos presidentes das federações estaduais e dos clubes das
séries A e B, levanta um questionamento: que moral terão esses dirigentes
para reclamar quando seus clubes forem prejudicados por erros de arbitragem?
A segunda rodada do Campeonato Brasileiro 2025 foi um verdadeiro festival de
polêmicas arbitrais. No duelo entre Corinthians e Vasco, dois gols do time
paulista foram anulados após consulta ao VAR, gerando protestos acalorados e
a expulsão do técnico Ramón Díaz. O confronto entre Atlético Mineiro e São
Paulo terminou sem gols, mas com três expulsões, incluindo a do treinador Luis
Zubeldía por "gestos provocadores, debochados ou exaltados".
Na partida entre Internacional e Cruzeiro, além de gols anulados de ambas as
equipes, houve a polêmica expulsão de Jonathan Jesus, do Cruzeiro, em lance
que gerou intensos protestos por falta de revisão do VAR. Mas talvez o caso
mais emblemático tenha sido o pênalti controverso marcado em favor do
Palmeiras contra o Sport, que resultou no gol da vitória paulista.
Este último lance foi tão controverso que o Comitê Consultivo de Especialistas
Internacionais (CCEI) da CBF, formado por Nicola Rizzoli, Néstor Pitana e
Sandro Ricci, concluiu unanimemente que houve erro na marcação. Segundo o
parecer, "o defensor toca claramente a bola e não faz um movimento adicional
que possa justificar a infração marcada". A CBF reagiu afastando por tempo
indeterminado o árbitro Bruno Arleu de Araújo e o árbitro de vídeo Rodrigo
Nunes de Sá.
A crise da arbitragem brasileira vai além de casos isolados. Há problemas
estruturais que precisam ser enfrentados. A falta de padronização de critérios é
evidente, com lances semelhantes recebendo tratamentos diferentes em jogos
distintos. Isso gera confusão e frustração entre jogadores, técnicos e
torcedores. O preparo e a formação dos árbitros brasileiros também são
questionados, sugerindo a necessidade de maior profissionalização. Pairam
ainda suspeitas de influência externa ou clubismo em decisões arbitrais,
minando a confiança na imparcialidade do sistema. A comunicação pouco
transparente entre arbitragem e público agrava esse cenário de desconfiança.
O VAR, que deveria ser uma ferramenta para corrigir erros claros e óbvios,
frequentemente intervém em lances interpretativos, gerando mais polêmica. A
demora nas revisões compromete o ritmo das partidas, enquanto a falta de
clareza nos protocolos dificulta a compreensão das decisões.
Observa-se também uma dependência excessiva da tecnologia, com árbitros
de campo hesitantes em tomar decisões, mesmo em lances aparentemente
simples. A qualidade dos operadores do VAR é outro ponto crítico, com erros
de interpretação e avaliação das imagens ocorrendo com preocupante
frequência.
Os erros de arbitragem e as falhas na utilização do VAR têm consequências
graves: resultados injustos alteram classificações e podem decidir
campeonatos; a credibilidade do futebol brasileiro diminui perante torcedores,
patrocinadores e comunidade internacional; e o clima de violência e
intolerância é alimentado por decisões controversas.
O cenário exige mudanças urgentes: profissionalização da arbitragem, com
salários adequados e dedicação exclusiva; melhoria na formação e
treinamento, focando na padronização de critérios; aumento da transparência,
divulgando áudios e vídeos dos lances revisados; revisão dos protocolos do
VAR; avaliação contínua do desempenho dos árbitros; e investimento em
novas tecnologias.
Os recentes afastamentos de equipes de arbitragem pela CBF após erros
graves são apenas paliativos. A solução real passa por medidas estruturais e
de longo prazo que possam resgatar a credibilidade de um elemento
fundamental para a justiça esportiva. O futebol brasileiro merece árbitros à
altura de sua grandeza e tradição.
ROBERTO MAIA É JORNALISTA, ESCRITOR, CRONISTA ESPORTIVO E
EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR