Como observador atento do futebol brasileiro, posso afirmar que a conquista do
Sul-Americano Sub-20 pela Seleção Brasileira na Venezuela foi uma
verdadeira lição de resiliência e superação. O início da campanha não poderia
ter sido mais traumático: uma derrota histórica por 6 a 0 para a Argentina, a
maior goleada já sofrida pela categoria. Naquele momento, confesso que as
perspectivas pareciam sombrias.
No entanto, o que se seguiu foi uma demonstração impressionante de força
mental desses jovens atletas promissores. A evolução da equipe ao longo do
torneio foi notável, especialmente no aspecto defensivo. Enquanto nos quatro
primeiros jogos o time sofreu dez gols, nos cinco jogos da fase final apenas
duas bolas balançaram as redes brasileiras. Esta metamorfose defensiva não
foi por acaso.
O técnico Ramon Menezes teve a sabedoria de promover mudanças cruciais
na equipe. A entrada do goleiro Felipe Longo, do lateral Leandrinho e do
zagueiro Iago trouxe mais consistência à defesa. Iago, em particular, merece
destaque especial. Além de sua solidez defensiva, contribuiu com dois gols em
bolas paradas, evidenciando a importância deste fundamento para a conquista
– cinco dos 14 gols da equipe vieram dessas situações.
O meio-campo apresentou uma química interessante, especialmente com a
dupla formada nas categorias de base do Corinthians: Breno Bidon e Gabriel
Moscardo, este último já negociado com o PSG. A presença de Pedrinho na
armação, outro produto da base corintiana, agregou criatividade ao setor. Pelos
lados do campo, Rayan, Gustavo Prado, Wesley (também ex-Corinthians) e
Alisson mostraram-se peças fundamentais no esquema tático.
No ataque, Deivid Washington provou seu faro de gol, terminando como
artilheiro da equipe com três tentos. É interessante notar como o talento
individual destes jovens atletas, mesmo em momentos de dificuldade coletiva,
acabou prevalecendo sobre as demais seleções sul-americanas.
A final contra o Chile foi emblemática. Mesmo sem apresentar um futebol
deslumbrante, a equipe mostrou maturidade para construir uma vitória por 3 a
0, com gols de David Washington, Pedrinho e Ricardo Mathias, todos no
segundo tempo. A conquista do 13º título sul-americano da categoria se
completou com a derrota argentina para o Paraguai.
O que mais me impressionou nesta conquista foi a capacidade de recuperação
demonstrada por estes jovens. Vestir a camisa da seleção brasileira já carrega
uma pressão natural, mas fazê-lo após sofrer a maior derrota da história é um
teste de caráter ainda maior. A resposta veio logo no segundo confronto contra
a Argentina, com um empate por 1 a 1 arrancado nos minutos finais, após um
primeiro tempo de dominação adversária.
Esta conquista tem um sabor especial também para Ramon Menezes, que se
tornou bicampeão sul-americano Sub-20, repetindo o feito de 2022. Como ele
mesmo destacou, este foi possivelmente seu maior desafio à frente da seleção,
superado com uma demonstração impressionante de poder de recuperação
desta geração.
O título não apenas mantém a hegemonia brasileira na categoria como também
garante vaga no Mundial Sub-20, que será realizado no Chile entre setembro e
outubro. É uma oportunidade para estes jovens talentos continuarem seu
desenvolvimento e, quem sabe, começarem a traçar um caminho que pode
levá-los à seleção principal, que há tanto tempo busca resgatar seu
protagonismo no cenário mundial.
ROBERTO MAIA É JORNALISTA, ESCRITOR, CRONISTA ESPORTIVO E
EDITOR DO PORTAL TRAVELPEDIA.COM.BR